25 de novembro de 2008

Em minha pele

Em minha pele, todos os meus percursos...
Todos os sinais dos acidentes da Terra.
Em minha pele, meu grito e meu desejo...
Fêmea em véus e vícios da alma,
Linhas, cicatrizes, todos os amores insensatos
Como o teu, estão nela a me revelar.
Minha pele, urdidura dorida e derriçada...
Renascida de si, curada mais uma vez,
Guarda, entre sulcos sutis, memórias veladas
Que eu mesma esqueci:
Meus indistintos descaminhos
Noites de vento a sonhar inconexa,
Força de venenos e cios desmedidos...
Em minha pele ungida de acalantos,
Solitude em meus dispersos pensamentos,
Meus erros e acertos ficarão como hieróglifos
Sem ninguém que me queira decifrar.

19 de novembro de 2008

Inspirar, ver, espirar...

Vou sair pelos trigais desertos
A respirar fundo e a me doerem os olhos
No ar dourado, ouro de sol da terra prenhe,
A parir cor, vida, quereres e cios,
A dança das águas e o som grave do vento.
Ver o cavalo cair pesado, sôfrego e lento
E a morte ser-lhe concedida, certeza e sina.
Vou sair, a saliva a secar em minha boca
E dizer a mim mesmo que entendo e resisto.
Vou correr pelos cantos desertos das esquinas
Em plena sujeira de todos os dias,
Os pés sôfregos e lentos no meio da rua fria.
Vou ver o homem cair pesado e o fim em seu rosto
Certeza e fado, a luz e a sombra do tempo.
Não paro. A deslizar pelos trigais desertos,
Pelos caminhos das asas no coração,
A paixão, o penar, o amor e o ser,
A paz e a morte enfim no acolhimento da terra.
Inspirar, ver, espirar...

18 de novembro de 2008

Sina

Carrego o amor perverso do meu sangue
O jurado eterno amor das saudades e dos desejos,
O amor das perdas, das culpas, tão grande e enrugado amor.
Carrego o fardo dos irmãos acuados, corpo e alma,
O gosto amargo do estrangeiro em sua própria casa,
O pavor do filho que não sabe se foi querido,
Tão grande e enrugado medo.
Trago comigo as juras não cumpridas dos antepassados,
Seus pequenos e grandes crimes e deslizes encobertos.
Vivo a sina das condenações herdadas,
Os instantes perdidos,
Os pecados sem testemunhas e a vida por fazer.
O sangue não nega e eu nem sei quem fui
Nem quanto serei culpado.
Tão pequeno e enrugado ser.

7 de novembro de 2008

Nas janelas de teu rosto

Olhei janelas de teu rosto:
Observatório de telescópios
Para teus olhos astros.
Teu céu caiu em mim,
Constelações com jeito de borboletas.
E eu, eu a apontar lentes, eu a perscrutar
O que diziam as tuas nebulosas
Teu olhar fitei.
Andrômeda, mel e estrelas,
Sonho com teu corpo estelar.