28 de julho de 2009

Os amantes


Amor vivido entre
Dois corpos.

O tato da paixão que evoca

A outra face,
O lado oculto.

Beleza e mistério: o óbvio.

A parte que me cabe
A parte que não cabe,

O abraço nu a suster o momento.

Dois quereres,
Entrega das almas,

O gozo na pele que a pele provoca.

Prova-me, amor!
Prova de amor. Agora...

Agora é sempre!

23 de julho de 2009

Entre Mundos


Que pensa você, Anjo?
Que sente?
Nada:
Você,
O Amor pela Criação,
O Amor absoluto e incondicional,
O braço do Um,
O primeiro ato,
O Entremeio de ser e nada...

Você é tudo isso. Você É, não sente...
É a Palavra, mas não o coração!

Arcanjos, Serafins, Querubins, todos não tem paixão.
São a Anunciação, a Justiça, o Velar Eterno...
Aqueles que, debruçados sobre qualquer coisa viva, dizem
“Cresce, Cresce”...

São os portadores do êxtase e do retorno.

Eu, anjo caído, este de asas escuras e com alma,
Contaminado por acontecer na carne,
Desfigurei-me em sentir...

Aquele que cai
Não é mais anjo.
Vive o arrebatamento!
Ele não é mais Aquele que o traz!
Sente-o, entrega-se humanamente a ele.
Seu amor é Amor & Ódio,
Dor & Raiva, Desejo & Sina,
Esse que nasce é
Tentativa & Erro,
Vida & Morte!
Medo!

E por pena será a velha dicotomia:
Alma & Espírito.
Ser & não Ser, Coração & Mente,
Instinto & Pensamento.

Eu “desejei”, Anjo!
Ah, eu vim para “Ser Carne”,
Ter sentidos, Pathos!
O anjo caído é isso: Vontade.
A mais pura, simples e dolorosa Vontade.

Você anuncia
Eu só posso ter presságios...
Você vinga,
Eu peco.
Você é acima do bem e do mal
Eu...
Eu faço o bem
E o mal.
A Escolha, a difícil e adorável arte da Escolha!

Irmãos entre mundos a acontecer, eu e você...
Assim é e assim seja.

8 de julho de 2009

Adormecida

Esquecida,
À espera de um beijo estrangeiro,
Fico à beira da porta de meu inferno
Ausente entre os homens e os monstros...
Sou uma estátua de deusa inerte,
Um grito travado no mármore...

Os olhos cegos que escondem minha presença
E um leve e plácido sorriso imóvel
Inibem a alma prisioneira
A escalar o abismo entre mundos!

Ninguém virá trazer aquele beijo redentor!


Nas vielas ruidosas os transeuntes cotidianos

Parecem inalcançáveis de tão próximos...
E há os que ainda acreditam em lendas,
Mas não sabem como é minha fábula.

Quem sabe por quantos séculos

Estive à margem do amor merecido!
Tudo por uma ferida feminina a sangrar,
Cálice continente e negado
Em nome do poder da espada!

Ah amável dor de ser mulher...

3 de julho de 2009

A cidade dos deuses

Pompéia cravada nos Andes.
Oposta à morte enterrada,
Airada nas alturas, nata loucura
Nos sagrados sonhos tribais,
O horizonte de pedra bruta,
Rochedo do abismo,
Corpo de mulher-montanha,
Montanha Mágica...

Ai, quantos lados tem o porvir?
Mãos rupestres rasgaram em beijos
Todas as páginas que li.
Flores multicores de cristais,
Antigos muros saltados de um outro tempo...
Eu era a caverna, a gruta crua
De que escorria uma língua só tua,
Era a lua e a carne nua que escrevia amor
Nas escadas de tua porta.
Quantos acasos, quantos cheiros na relva do mundo...

O passado é silêncio e o futuro não vejo
E a aldeia abandonada aos deuses
Paira entre plantas rasteiras e folhas de coca.
Soprados templos na brisa divina
Flutuam na altura dos picos da cordilheira.
A verdade faz ninho no que sou,
Musgo das velhas paredes.
O espaço aos pés descalços desenha um poço.
Náufrago do tempo no umbigo da Terra,
Eu estarei aqui em forma de pó.

Propósitos


Quando a última fêmea de andrajos brancos,
Inexorável e assustadora, vier por mim também,
Quero recebê-la quase que desarmado, quase que feliz...

Quero então ter cumprido com todas as palavras ditas ou não.
Quero ter dançado as músicas de minhas mais amáveis fantasias,
Quero ter feito poesia como se sempre fosse a última vez...

Quero ter sido inteiro e em tudo, mas com o olhar das crianças,
Sempre pronto a sorrir e a deslumbrar-se, sempre a rir de mim e a brincar.
Quero ter amado mesmo quando pareceu improvável conseguir que assim fosse.

Quero ter ferido pouco quem amei, e cuidado dos que de mim precisaram.
Quero ter deixado meus sonhos nos olhos, nos corações e almas que encontrei,
Quero ir sem dó, sem arrependimentos, com todas as cicatrizes como troféus,

Sem pena, sem piedade, com todas as dores do viver e contudo,
Perguntar a essa terna guia se ainda me daria tempo para mais umazinha!
Mais um amigo, mais um carinho, mais uma amante, mais uma poesia,

Mais um beijo na boca, enorme e de língua,
Mais um quererzinho para não ter que querer mais nada,
Nada, nada mais...