13 de setembro de 2009

Noturno 20 - Amanhã


Não!
Agora não...
Amanhã talvez frente à árvore
que de madrugada balouçou escura na aragem
a farfalhar,
gritarei meu tormento...
Estrelas veladas,
lua
entre galhos...
Amanhã não estarei por perto
que a hora erradia há de me fazer estragos.
Eu somente, na alterada cor dos sonhos,
pedinte em meu advir.
Não!
Não me chamem...
Quem sabe,
qualquer outra vez,
como quando era uma vez de entrelinhas indizíveis
e eu ficava a sorrir
sem entender!
Agora,
não mais!

4 de setembro de 2009

Noturno19 - Inconsistências



As marcas dos pneus ficam no asfalto molhado.
Eu indo, eu noite, eu entrevado
A seguir um estranho fado que não quero...
Solidão de amigos mortos,
Dois seres perdidos,
Um encontro que espero
Improvável.

De manhã, insone, abro a janela,
“Estar juntos é estar na pele”,
Mas não há toque que se revele,
Não há acalanto que embale meu coração
Que em vão apela por serenar.

Cintila o chão noturno
Como um espelho iridescente
Num mundo oposto ao meu.
Enquanto o véu soturno encobre minha estrada,
“Amar mesmo que seja imprecisamente”,
Na madrugada entre todas as perguntas tolas,
Persigo um elo entre mim e os outros eus.

Dirijo quase como um fantasma
E as imagens se diluem na água à toa da chuva.
Corriqueiros desencontros, instantes derradeiros...
Tudo em mim desconhece paradeiro
E a morte ecoa certa em meu viver.

Gênese 4.0

poema de Adriano Francisco Geraldo

para Carol
Navegue aqui comigo
Adormecido corpo na vitória-régia.
Sobre as águas de meu umbigo
Estrelas consteladas guiam na tragédia!

Eterno parto onde esqueceram
De ceifar o sanguíneo cordão,
DoisUm amanheceram
corpo-pântano em coração!

Mundo adâmico em bocejos!
Descoberta tátil do novo,
Enciclopédias selvagens de beijos
Arrancadas do alquímico ovo!

Onde páginas de parreiras
Não cobrem vergonha alguma.
Não existem tristezas verdadeiras
Nem pálida mentira nenhuma!

O Anfitrião não nos mandará embora
Do quintal vedado pelo grande portão.
No original da macieira brota a amora,
Pecado é negar nosso duplo coração!

E se acaso cansar do divino paraíso
Combinado fica um pequeno sinal.
Flor no cabelo, zape ou sorriso
E correremos nus para além do matagal!

Planejaremos assim nossos novos feitos:
Desenhos em cavernas, escritas e roda.
Arquitetando para a vida outros novos jeitos
A beira da praia onde soltaremos a corda!

E no futuro lunar de amor ungido
Outra gigantesca flor brota,
Do casamento do já unido
Uma embarcação para uma nova rota!