A lua está de corpo inteiro, nua e alta...
Derramada em todas as paragens,
Tinge tudo de prata.
É noite de verão! Toda a gente e os insetos
Copulam em estranhas revoadas!
Cio quente na amálgama da madrugada,
Entrelaçam-se e entregam-se
Em todo ponto de lume, nas casas e nos guetos,
Nas camas desarrumadas e nos tetos
A perpetuar, nas atiradas gotas de prazer,
A vida por continuar.
Notívago sou nesta cidade,
Miríade de passantes e penares...
Dispersa na diáfana luz sobre as calçadas,
A poesia resiste nua no compasso da lua.
Vivo de ver, a vista desarmada
Na hora morta pelas ermas encruzilhadas.
Procuro um rosto em minhas sombras
E minhas negras asas pairam silentes.
É nada mais que um vulto, devaneio,
Mas teimo em perscrutar em meu planar solitário
Mergulhado no hálito morno dos becos da escuridão,
Daimon soturno e esquecido que não dorme mais.
Em todo meu movimento,
Crua dor padeço em desalento:
O fogo fátuo das paixões caladas,
As bocas entreabertas desejadas
E todos os apelos da alma incansável
Que, na geografia dos quereres,
Entrega-se inconseqüente
Entre a carência e a plenitude.
30 de março de 2009
Noturno
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