24 de março de 2008

• Prefácio

É bom que se diga: esta página nasceu às 03h45 do dia 24 de março de 2008. Sob fogo, água e ar.
As datas são mais que areia a correr por funis. São símbolos. Como tudo o que importa.
Uma página, substantivo e substância feminina. Porta-voz da alma de uns poucos anônimos, a viver da memória de um tempo sem tempo, a reconhecer em meio à multidão aqueles que nascem sob a chaga da voracidade. A caçar soslaios, nuances e sutis displicências de uma Rainha qualquer, posto que Rainha.
A escrever.

Não há pretensão além do espasmo. Nunca houve. É como viver: o coração pulsa e despulsa com a mesma audácia de seu início e o mesmo espanto de seu fim. Um ponto final, um novo parágrafo, senão cinzéis em mãos de ver e dizer.

Nós também somos símbolos. Também somos cinzéis. Nas mãos de quem, para que saber? Se o enlevo do toque, a umidade das Mãos e o calor da pele são todo o Norte de que precisamos, nomes não importam.
Ainda assim, por pura diletância, digamos.
Mario Ferrari, amigo, professor e poeta, merecia um espaço para dizer assim como merecem a boa cama os mendigos e os amantes. Para trazer consigo o cheiro e a letra dos pequenos órfãos que em sua orfandade adotou. Para fazer-se gregário até no mais solitário dos meios. Para despir a inquieta verve do dia-a-dia, as pequenas surpresas do olhar de criança, a promiscuidade dos sentidos e a esperança dos condenados.

Ouvir seu testemunho, suas Palomas e falanges de um só querubim, já fazia-se urgente assim como urge a boca do espírito pela calidez da alma que teima em deixar.

Vai, coração zagreu!