No fim de qualquer mundo
Há uma tristeza intransponível.
São os fins em si mesmos,
Como os mortos a esperar placidamente em nós.
Nosso tecido puído esgarça-se, dissolve-se,
Perde-se na rudeza de se saber pó.
Nada mais há que a absoluta linha inexeqüível...
O homem é um ser a ultrapassar a si mesmo.
O que veio para se superar entre o ser e o não ser.
Inevitavelmente estará nu diante dessa fronteira,
Essa angustiante marca entre mundos.
De repente a neblina se abre sobre o precipício
E só o que se tem é essa tranqüila melancolia,
Essa fluidez sobre tudo. Desistir aos poucos.
Dar direito ao espírito de se deixar ir.
O caminho traçado, queiramos ou não,
É esse retorno inalcançável, quase intolerável:
Integrar-se à unidade, ou ao zero, no fim do fim.
E a alma, essa desvairada, querendo brincar, brincar...
Brincar enquanto a eternidade como uma fotografia,
Esvoaça por sobre a última fronteira desmanchando-se...
Choro. Por um momento choro angustiadamente.
É tão desesperador descrer! Depois me abandono,
O olhar sobre o abismo em todas as direções,
O olhar que num instante já nada vê, nada pensa
Pois não vai existir minha essência.
Choro por tudo o que de belo conheci
E que se desmancha ao ultrapassar o último momento.
Todas as pessoas, todos os lugares, toda a arte,
Todas as dores, todos os pensamentos, todos os atos,
Toda a consciência a tornar-se inútil...
Venha, pois de braços abertos, beleza eterna do acontecer,
Venha e então me tome e desfaça em mim o ato de ser.
Nada mais, só entrega, só essa linha infindável,
Intransponível, claramente indizível entre o ser e o nada.
8 de junho de 2008
A Última Fronteira
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4 comentários:
Este poema foi me surpreendendo a cada linha...não tenho como explicar mas foi incrível...simplesmente fantástico.
PAZ.
A última Fronteira!!!!
...e eu choro...
Emocionei-me como se eu estivesse aqui,
bem dentro de tudo...
Muito lindo poeta
Rei Fauno
abraços
Isso!
lindo, absoluto, triste...
Incrível!
Beijos poeta
Edmea Thea
Do pó ao pó... o caminho tem quatro letras e é o que basta para justificar os fins.
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