14 de outubro de 2008

Sacralidades

Seus apócrifos de letras bêbadas e disformes
Trazem-me à lembrança a Eternidade.
São letras salpicadas de sangue.
Sangue uterino, quente e pantanoso,
Relicário do líquido que me nutre e consome,
É ele que guarda o êxtase do seu amor em mim.
É nele que trago o delírio, a insanidade e a eternidade.
A cada ciclo, renovo-me para você.
Escamo todas as partes de minhas entranhas,
Numa liturgia sagrada para recebê-lo em meu ventre.
Sinto a presença do Infinito
Cada vez que seu corpo me consome,
Cada vez que sua respiração me suga,
Cada vez que seu grito me invade,
Cada vez que seu suor me umedece,
Cada vez que cai sua semente em minha terra.
Cada vez que você, meu Senhor,
Marca meu corpo com a voracidade de sua paixão.
Quando me empala, sou a mais feliz das mulheres,
Pois somos um. Estou completa. Sou inteira.
Por alguns segundos, não sou eu, não é você,
Dissolvemo-nos num universo.
Por isso, sua pele é a mais sagrada das vestimentas,
Seus pêlos guardam a essência do seu sal,
Sua boca é o receptáculo de meus pedidos,
Sua cruz, rija e sagrada, é minha penitência,
A mais preciosa.
Você é aquele que me traz esperança,
O que me completa no delírio e no arrebatamento...
Aquele que me devolve a mim,
A filha da Deusa!
É essa a marca que trago indelével:
Onde quer que você esteja, meu amor,
O desejo de que volte sempre para mim.
Mas, se um dia, meu Senhor,
O retorno só acontecer em minhas memórias
Ainda assim serei grata ao Universo
Pois saí da escuridão, da vida sem o amor.
Entrego-me, a partir de agora, nos braços da Liberdade...
Que ela me livre da insanidade estúpida
E me jogue no colo da loucura cega
A eterna busca de mim mesma.
Sou, agora, meu tesouro,
Como o filho pródigo e o pai:
Recebo-me bem-vinda!

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