15 de outubro de 2009

Corpo de palha



Nas veias escuras da noite que me toma,
Jaz meu corpo como um velho espantalho,
Abandono, desapego, desenredo,
Dissonância.

A ave noturna voa,
Um vôo enganado pelos meus frangalhos,
Pelo meu “rosto sem rosto”,
Pelo céu.

Na fria madrugada,
Espreito imóvel.

A noite assombra o farfalhar das plantas.
Encontro-me estrangeiro sem biografia por dentro.
Sou quase nada, mãos de palha, estaca,
Distância.

Mas no bojo do mundo,
Braços abertos do espantalho,
Sou soprado no escuro corpo das horas erradias.
E então flutuo.

Esgueiro-me pela pele dos amantes,
Entre as coxas abertas e entregues,
Por rostos de mil faces,
Pelo céu de tua boca...

Nas asas da noite,
Daqui de meu canto de espantos,

Desfaço-me em insignificâncias no ar.

Um comentário:

Carolina disse...

Já tava sentindo falta!!!