18 de abril de 2008

Espelho, espelho meu...

Um ser parido na hora da conquista,
Eu, poeta, rei, filósofo, alquimista,
Fui também o bobo, o ingênuo, o estúpido,
Um anarquista que rasgava dinheiro
E ainda, o canalha, o capataz, o fascista,
A puta, o malandro, o lobo na pele de cordeiro.
Vagando no nevoeiro, um eremita,
Um equilibrista no fio da navalha,
Quem ainda sou sem eira nem beira,
Alma de artista na poeira?
Tudo e nada nas malhas do acaso.
Meta desencontrada, metáfora desaforada,
O anti-herói que se perdeu,
Triste herdeiro de Prometeu...
Eu...Eu! Alma que ainda assim perdida não desiste!

Tendo vivido sem me dar conta,
Perdi-me em descaminhos, afrontas,
Ninhos, portas por abrir, lugares para não ir,
Horas mortas, dores, amores, anseios...
Vim numa semente pronta para resistir
E fiz refugio no seio de minha amável prisão.
Um refém de mim, fui tantos e ninguém,
Um fado de herói que não se cumpre.
Cego a tropeçar em meu enredo,
Desde cedo tentei remediar meus passos.
Eu, um arremedo de mim sempre menino,
Errando com medo e desatino abri meus braços
E amei, coração tão destemido de leão, nunca crescido,
A lealdade como marca de um desajeitado destino.
Eu... Eu! Filho desgarrado dos deuses que ainda insiste!

Um viajante que não parte, um artesão sem arte,
Uma escolha para o descarte, o que não dá certo.
O que está perto de acontecer e espera,
Fauno velho, meio homem meio fera
A doerem-lhe os ossos as coisas por fazer.
Quem me dera saber! Mas amo! Amei e amo.
E mesmo adoecendo de meu mal, não me vendo.
Homem lindo e horrendo, animal e humano,
Chamo na lua cheia pelos nomes da paixão.
Na solidão estou acompanhado de bons fantasmas.
Quem são eles no meu espelho? Jovens, velhos,
Machos e fêmeas, a imagem que escureceu,
Meus amantes, meu mundo que emudeceu,
Prisioneiro dos vales sob o céu,
Eu... Eu! O homem acorrentado que às suas penas assiste...

Vendo-me morrer sem tino,
Procuro-me em vielas, pontes por atravessar,
Lugares em que estive a observar horas idas.
Quem sou, então? Grão a querer mais da vida,
E que não tem como libertar seu espírito?
Fui ninguém e vesti todas as máscaras que pude,
Sempre a me fechar em meu segredo.
Neste emaranhado tentei inscrever meus sonhos
E num degredo de mim sem descanso,
Voando com o coração manso de um antigo pássaro,
O ser como carga de um derramado acontecer,
Tornei-me um devaneio sublime e medonho,
Aquele que não sabe exatamente a que veio
O que deseja e ama em meio do seu padecer.
Eu... Eu! Filho desarmado dos deuses que ainda resiste!

4 comentários:

Vinícius Castelli disse...

E vem vivendo por completo??

De Marchi ॐ disse...

"O ser como carga de um desarmado acontecer,
Tornei-me um devaneio sublime e medonho,
Aquele que não sabe exatamente a que veio
O que deseja e ama em meio do seu padecer.
Eu... Eu! Filho desarmado dos deuses que ainda resiste!"

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Sublinhando apenas porque você me disse que mudou recentemente... tinha reparado?

Mario Ferrari disse...

DENIS -
NÃO! NÃO TINHA REPARADO E JÁ MUDEI! MUDEI TAMBÉM ALGUNS VERSOS TORNANDO-OS MAIS COMPACTOS E, ACREDITO, MAIS BONITOS.
AS IMAGENS FICARAM ÓTIMAS!
É O QUE EU QUERIA. OBRIGADÃO!

De Marchi ॐ disse...

Gostei da mexida no texto!