3 de abril de 2008

Os Mil Anéis

Os mil anéis de teu cabelo preso,
São labirintos de meu caminho. Ninfa,
Com teus pés de fada, vais de mesa em mesa,
Num derrame de cerveja e toda a gente a conversar.

Flutuas encantada nos meus olhos
E não estás para ninguém com teus segredos.
Sem que saibas alimentas um velado desejo
Mas a angústia é só minha e vem de me degredar.

É noite e parece sempre a mesma noite,
A não ser por eu teimar em te seguir,
Teu cabelo negro em mil anéis,
Preso como eu mesmo a me iludir.

Os amigos a desenrolar meadas de casos e bobagens,
Discutem importâncias e conhecimentos.
Já eu, tão estúpido e vazio, tão vadio e sem comedimento,
Sigo teus pés dentro de meu cio, nesse teu louco vai e vem.

Fiz um pedido: copos, por favor, e aguardente,
Meu coração silente e desarrumado espera
Enquanto fica sem dizer que eras seu devaneio
Em meio à torrente a represar em mim.

É noite e parece sempre a mesma noite,
A não ser por eu teimar em te seguir,
Teu cabelo negro em mil anéis,
Preso como eu mesmo a me iludir.

Como Alice num sonho de verão, caio num poço de entrelinhas
E vou percorrendo idiotices entre meus próprios armarinhos.
“Um dia não acordar mais e ser prazer e tolerância.”
Talvez ter mais alguma efervescência, mas acordo em ti.

Sou um gato evanescente, reticente sorriso. Tornei-me oblíquo,
As simulações varam horas e eu, raso, finjo estar só.
Bebo com os amigos e flutuo, mas despenco e recuo sem aviso.
Parei de ouvir; só quero estar nu num velho jardim.

É noite e parece sempre a mesma noite,
A não ser por eu teimar em te seguir,
Teu cabelo negro em mil anéis,
Preso como eu mesmo a me iludir.

Algo em mim me é totalmente estranho;
Estou triste como um velho e achacado fauno
A buscar o elo sagrado entre os homens e não entre os deuses.
E não encontro mais que vestígios do que foi esquecido.

Olhar obscuro, nostálgico, profundo e ausente,
Vejo fetos que morrem sementes pelo mundo sem futuro,
Cópulas estúpidas e dissimuladas, gente-máquina, ávida,
A beber fodas como meros copos de aguardente.

É noite e parece sempre a mesma noite,
A não ser por eu teimar em te seguir,
Teu cabelo negro em mil anéis,
Preso como eu mesmo a me iludir.

Há um peso em meus ombros que me curva,
Um remoto desejo motor a não querer morrer.
Meu chamado é um murmurar desencontrado e lento,
A percorrer desatento uma trilha sem rumo.

A hora é cada vez mais improvável e eu covarde e pequeno,
Amo teu corpo moreno por decorrência, fresta, demência,
A egoísta expressão do próprio umbigo, centro do mundo,
Quero ir e não consigo, encontrar-me entre meus escombros.

É noite e parece sempre a mesma noite,
A não ser por eu teimar em te seguir,
Teu cabelo negro em mil anéis,
Preso como eu mesmo a me iludir.

7 comentários:

Vanessa Marques disse...

To adorando isso aqui.

Vanessa.

Mario Ferrari disse...

Eu tô adorando VOCÊ aqui (rsrs)

Vinícius Castelli disse...

Nossa, que lindo.

Li, fechei os olhos e como vieram coisas na cabeça.
As noites parecem as mesmas por muitas vezes. Só que somos muuuuito capazes de mudar isso.

Bacio, ragazzo

Anônimo disse...

Os dias se passam, as conversas fluem, os carinhos acontecem e voce cada dia mais se revela no meu coraçao como um GRANDE AMOR!!!!
AMO VOCE SEMPRE....
SUA CARANGUEJA

De Marchi ॐ disse...

Tá, tudo bem. Por cumplicidade e recato despirei as anáguas quando botar minha alma pra beber com a sua, compadre. Só pra ouvir a ladaínha que virou orquestra mais uma vez, e outra, e outra.

웃 Mony 웃 disse...

As noites podem até ser as mesmas, mas, o que nos motiva a mais uma, mais centenas está na teimosia...
Segue o cacho de cabelos da vida, pq cada nova mulher, cada novo amor, cada nuance nova de um amor antigo é uma nova noite, que desejamos avidamente não ser a última...
O único sentido pra se viver é sentir.
E tanto você sabe disso, que sente e transmite isso lindamente.
Ah! Querido...
Beijos muitos. E muitas noites enluaradas pra te iluminar ainda mais...

Mario Ferrari disse...

Obrigadjo Mony!!!!
Fico feliz que você gostou!