24 de maio de 2008

Fábula

para a menina águia

Era uma vez essa mulher...
E era eu, argonauta,
Explorador desse mar estranho,
Que fui dar em seu rochedo.
Não devia ser por acaso...

A mulher alada e acorrentada,
Que já me sabia antes de eu chegar,
Uma prisioneira presa ao escolho,
Esse olhar divergente de deusa e órfã,
Mar noturno de sargaços e calmarias,
Era, a fêmea-ilha, meu escolho lacrimal
A dizer “Olha para mim”.
E eu, calejado navegante soturno,
Mago que desistiu de ser herói,
Senti imensa nostalgia, desejo,
Fagulhas de estrela em seu degredo.

Serias tu a verdade nua, a estrela deusa
À beira do precipício em frente ao meu navegar?
Serias ainda a feiticeira a enganar a si mesma
E aos bobos errantes a se buscar no mar?
Ou a alma aflita, agrilhoada a querer loucamente
Abrir as asas e alcançar o ar?
Talvez. Ou talvez só poesia, palavras ao vento,
Palavras singelas de lamento, amor, e dor.

De repente não importava mais o perigo, a dúvida.
Era uma vez um velho rei fauno cansado
Que encontrou uma linda prisioneira
Com grandes asas e mãos de rapina,
Vestida de véus como uma fábula.
Virou seu barco e, sem pensar mais,
Partiu a naufragar em seus olhos.

4 comentários:

De Marchi ॐ disse...

mãos de rapina... há magia e tristeza nas unhas grandes que podem bem sê-las pelo desuso.

Mario Ferrari disse...

por isso a prisão no rochedo.
Sereias que cantam da beira do rochedo são também como vampiros.
Mas é aí que mora o perigo: atirar-se aos braços do desejo requer força, cautela e vontade. Mas na maioria das vezes deve-se ser amarrado ao mastro e ficar gritando deixem-me ir, deixem-me ir, quero ficar com ela, deixem-me ir...

um beijão Denis.

Edmea Thea Belladonna disse...

muito lindo!

Beijos, poeta,
Edmea thea

Mérci disse...

"Era uma vez essa mulher...
E era eu, argonauta,
Explorador desse mar estranho,
Que fui dar em seu rochedo.
Não devia ser por acaso..."

Não devia ser por acaso,
Uma estrela jamais brilhará
se nao houver alguém que a contemple...