12 de agosto de 2008

Entranhas de Metrópolis

Você está na área de tiro à espera de um "dia feliz".
No corredor da estação há uma passagem como uma janela.
Uma velha estátua com olhos sem pupilas fita, cega, o nada.
Há choro e riso. Há muito barulho, ondas de rádio e ranger de trens.
A faixa amarela nunca deve ser ultrapassada.
Você está na área de tiro à espera de um “dia feliz”.
Corpos amontoados ao pé da escada arrastam, suburbanos,
Amores perdidos, trens perdidos, olhares perdidos, olhos de pedra.
No fim da plataforma há uma fresta como um caminho.
As mãos de um atlas catatônico sustentam um desconcertante mundo,
Gesso, pó e cimento, diante de todos os fantasmas das gerações vagantes
Que passaram sem destino conhecido, indiferentes, no insano retrato,
O descaso da partida, o desterro da chegada.
Cuidado: porta automática. Aguarde o sinal.
Você está na área de tiro à espera de um “dia feliz”.

Um comentário:

De Marchi ॐ disse...

Na São Paulo de todos os santos, eu sou ateu.
Cara, não sei se fico feliz ou se me concentro pra afastar o arrepio, mas é fato que isso me lembrou vários papos (chego a achar que já a li, mesmo sem saber).