25 de agosto de 2008

Três Marcas


Três marcas, pequenas manchas em meu olhar
e os homens jovens que falam de grandes idéias
e algumas frustrações
que tuas visões de criança deusa
atravessam como um certo quebra-gelo
entre icebergs de velhas águas.
Três marcas e a proa de teu olhar
quebrando sonhos e estátuas de falsas liberdades
e meu estômago pegando fogo
e meus ideais morrendo
na falta de surpresas que me dêem motivos
para mudar de rumo e é domingo.
Sei de todas as sementes
e de muitos sentidos
que não ouço mais nas entrevistas.
Vejo-me como um bêbado bobo,
observador de passagem,
num acampamento de desesperados
com um objetivo que já não é meu.
Teus olhos negros singram gelos em mim
que observo os três pontos,
constelação do tempo,
redemoinho em teu rosto.
Refaço caminhos sem retorno e sem trégua,
homens sinistros que não sentem nada
e homens que sentem demais
para não fazer absolutamente nada
que não seja beber intensamente
como estar diante das horas do fim.
Três marcas da mais tenra pele da inocência
a comerem a vida
enquanto ouço estrondos distantes,
a desmoronar meu coração de ossos
por querer mais do que sonhos estúpidos
e mais que estampidos mecânicos
de um vermelho domingo azul,
sem tréguas para amar.
Três manchas a delinear o fim da tarde
com teus olhos corta-gelo
de poderoso navio errante
que só parece ter um rumo
mas que não sabes qual é
e se é o teu.
Com certeza estou a errar
e minhas andanças dissolvem-se
na névoa do oceano gelado
em que sou pedra d’água,
montanha efêmera de vida e gelo,
ida na tentativa de entender
minhas ávidas paixões desertas
como tu atravessando meu mar
com três marcas no rosto
e teus negros grandes olhos.

3 comentários:

De Marchi ॐ disse...

Eu sempre tenho de tomar cuidado com a potência dessa poesia. Saber dividi-la da memória, dos eventos a que me remete, e deixá-la viver por si como poesia é um desafio.
Ela é ótima, mas dói.

Mario Ferrari disse...

E eu te amo piquinim

Beijos
Mario

웃 Mony 웃 disse...

As marcas que se expõe são quase nada diante das que teimamos em ocultar...
O vento do tempo, não as apaga, mas ao menos as suaviza...