24 de dezembro de 2008

Sina

Eu o herdeiro de Édipo o Rei,
Confesso-me culpado pela pequenez
Diante do fado de perder as asas,
Diante do sofrimento da queda de Ícaro,
Diante da lúcida cegueira desse rei homem
Que descobriu, ser a culpa sua própria redenção.

Eu, culpado assim até a beira da morte,
Que volto ao limiar do útero da Terra Mãe todas as noites
Para me alojar numa vaga sugestão de aconchego,
Que busco me afastar a cada manhã
Mas continuo preso pelo umbigo a esse ventre,
Sou quem se abandona esquecido qual imortal à espera da morte.

Eu que vejo o decair dos deuses em suas misérias
E que por isso cego e não posso ter a paz do colo que procuro,
Descubro-me, em vão, a mão de minha própria sina
Que se cumprirá e na última noite
Tornar-me-á o feto apaziguado
No ventre da Mãe Eterna a me anular.

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