30 de dezembro de 2008

Síncronos

O rei olha para o bobo.
Arde o fogo e os cães dormitam aos pés do trono.
Homens encharcados de neve e aguardente
Aquecem-se entre gritos e pilhérias.

O rei está rico.
Rico e incapaz de sorrir
Nem por aqueles a guerrear e a morrer em nome de Deus.
O bobo grotesco canta e ri e o céu desaba.

Chove.
Chove no brilho dos olhos e em cada mundo
O tempo não permite esconderijos.
Não há lugar onde não grasse um tormento.

O ronco de um avião passa contra um céu cinzento e frio
Sobre latões de lixo em chamas em meio à sujeira urbana.
Postados entre poças d’água entre velhos e novos edifícios,
Mendigos aquecem as mãos sobre os fogos fétidos.

O rei dos ladrões disfarça...
Passa o papelote ao banqueiro no coreto do jardim
Enquanto insetos de metal revoam por ali
Em nome da ordem.

O rei ouve vozes...
Um poeta num quarto francês,
Um bobo entre as gargalhadas do tempo,
Deserdados da nova metrópole diante do fogo dos farrapos...

Percorrendo séculos em busca de Deus, o rei já não vê.
Um cão levanta alerta a cabeça e o olho brilha.
O olho brilha e o bobo ri...
E chove continuamente...

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