Sinto-me só diante dos olhos da morte.
Fria, inevitável, óbvia,
A mim se tornou mais real do que nunca esteve,
Pensamento a pensamento, dor após dor.
Fere-me essa intransigência da carne,
A perda de meu orgulho, o esquecimento,
O passar de cada noite.
Os olhos da morte estão a me fitar no tempo,
Esse olhar sem rosto, paciente e silencioso.
Não há o que desfaça o traçado dos dias ao seu encontro.
A trama do tecido vivo varia, a teia é carregada,
A urdidura dos nós é imprevisível, mas seu rumo,
Claro e certo, é como respirar sem propósito.
Os olhos absolutos da morte...
E vou tatear no bordado dos caminhos,
As escolhas às cegas, os movimentos e os medos.
Busquei paixões arredias, tive visões em relâmpagos,
E as ilusões de um coração “incansável”, a se cansar.
Que arrependimento, que ideal, que fim, nada.
Não há sentido na vida a não ser viver.
Entre meu nascimento e minha morte, amo.
Resta-me acenar calmamente para a morte todo dia.
3 de abril de 2008
Da Morte, Poema I
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4 comentários:
Muito profundo, como sempre.
"Não há sentido na vida a não ser viver."
Então, vivamos.
Bacio, bello
Adoro esse negócio de "degustação" gratuita de palavras...delícia!
Esse blog é quase uma "boca livre" rsss..
...E se deixar, quando inevitável.
...
Mas até lá, rugir!
Se a morte é certa, não deixe que ela venha na hora errada...
Não antes de viver tudo muito bem vivido e degustado gota a gota. ;)
A morte é uma bela jogadora de poquer...
Esquece o tabuleiro enquanto ela não olha pra ti.
Enjoy you life! ;)
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